A
FAMÍLIA, A SECA E O ÊXODO DAS MULHERES
PARA
OS GRANDES CENTROS
Segundo afirmam Costa e
Waquil (2008), o fenômeno da seca é
difícil de ser definido por este envolver fatores climáticos, geográficos,
sociais e econômicos. A dificuldade em entender a conceitualização de seca e de
suas duas características fundamentais: a insuficiência de chuvas e a calamidade
socioeconômica, leva-os a concluir que ela é um fenômeno iminentemente social,
vinculado a um desastre climático histórico, e é nesse contexto, que tentaremos
exemplificar o papel da família no exôdo de seus jovens, principalmente as
mulheres, no título proposto a esse texto.
A autoridade paterna,
segundo Castro (2005) e Brumer (2007), o controle social de um lado e a criação
que distingue filhos e filhas, são fatores que podem explicar essas diferentes
atitudes de jovens que compartilham experiências de vida, em relação a uma
mesma localidade. Essa divisão de trabalho entre estes, se reflete na sucessão
familiar e consequentemente na relação com a terra e com o trabalho agrícola,
pois, enquanto os filhos são orientados a cuidarem da roça, do trabalho duro,
do trabalho braçal, as filhas ficam responsáveis pelos afazeres domésticos,
quase sempre não tão relacionados com a agricultura.
Essa autoridade paterna é um
elemento que reprime o interesse e a atuação das filhas, pois sem autonomia,
elas perdem o interesse, e enxergam no êxodo uma alternativa para se livrarem
desta autoridade, dessa opressão, dessa desvalorização, da nulidade de seu
papel na agricultura familiar, e até da não visibilidade do seu trabalho no
contexto familiar, uma vez que, na maioria das vezes, elas são vistas como
meras auxiliares, sem autonomia, sem poder de decisão, sem nenhuma posição de
destaque na hierarquia familiar.
Assim, como podemos
observar, esses fatores acabam se tornando até um atenuante preponderante para
o êxodo das jovens, inclusive com a permissão ou aquiescência dos pais, e na
busca por maior liberdade e autonomia própria, na tentativa de lutar por
estudos mais qualificados e melhor
escolaridade, elas são praticamente empurradas para a cidade grande, em alguns
casos, incorporando-se em trabalhos precários e mal remunerados, mas, que as
vezes lhes permitem visualizar uma melhora
acentuada na própria vida. Outro fator que pode contribuir para esse êxodo é o
casamento entre a jovem oriunda do campo
e o rapaz da cidade, o que dificilmente ocorre no inverso, pois pode também ter
o significado de quebrar vínculos com a autoridade e o controle dos pais.
Maria José Carneiro (2005)
afirma que esse processo de migração das moças, coloca-as em condições mais
vantajosas em relação após rapazes, pois, nunca foram colocadas como sucessoras
rurais e, aí são mais estimuladas a prosseguir e aprofundar seus conhecimentos
e modificar seu modo de viver, o que acaba por ampliar as suas opções para além
das fronteiras do universo doméstico, já que esse movimento pode ampliar os seus
projetos profissionais, em longo prazo, e pode gerar também uma crise na
sucessão rural, e consequentemente uma crise na produção da agricultura
familiar.
A reprodução social da
agricultura familiar, fica em risco, uma vez que, por diferentes razões, os
jovens, principalmente as mulheres,
passam cada vez mais a construir projetos profissionais que apontam para a
ruptura com a agricultura. Independente disso, com a migração das mulheres, diminuem
consideravelmente no campo, a oferta de casamentos, as uniões entre esses
habitantes, o que faz com que o homem também migre para o grande centro,
comprometendo a continuidade da sucessão rural no campo e o incremento
populacional na cidade, o que vai se refletir no campo com a diminuição da
produção agrícola e na cidade grande com o aumento principalmente na
concorrência por oportunidades.
AUTOR: José Lídio Moura
REFERÊNCIAS:
COSTA, A,M,J
WAQUIL, P.D.; O empobrecimento e
a vulnerabilidade da população rural em situações de Seca: o caso de Santo
Cristo, R.S. In: 4º Encontro de Economia Gaúcha, 2008, Porto Alegre.
Anais...,2008. P.1-19 1-20.
CASTRO, Elisa G. de. Entre ficar e Sair: Uma
etnografia da construção social da categoria juventude rural. Tese de
Doutorado. PPGAS- Museu Nacional. UFRJ, 2005.
BRUMER, A. A problemática dos Jovens Rurais na
Pós- Modernidade, In. CARNEIRO. Maria José de. Juventude rural: projetos e
valores, In: ABRAMO, Helena; BRANCO. Pedro P.M. Retratos da juventude
brasileira. Análise de uma pesquisa nacional. São Paulo, Instituto Cidadania e
Editora Perseu Abramo, 2005, pp, 243-261.
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