terça-feira, 21 de maio de 2013

A FAMÍLIA, A SECA E O ÊXODO DAS MULHERES PARA OS GRANDES CENTROS


A FAMÍLIA, A SECA E O ÊXODO DAS MULHERES
PARA OS GRANDES CENTROS



Segundo afirmam Costa e Waquil (2008),  o fenômeno da seca é difícil de ser definido por este envolver fatores climáticos, geográficos, sociais e econômicos. A dificuldade em entender a conceitualização de seca e de suas duas características fundamentais: a insuficiência de chuvas e a calamidade socioeconômica, leva-os a concluir que ela é um fenômeno iminentemente social, vinculado a um desastre climático histórico, e é nesse contexto, que tentaremos exemplificar o papel da família no exôdo de seus jovens, principalmente as mulheres, no título proposto a esse texto.
A autoridade paterna, segundo Castro (2005) e Brumer (2007), o controle social de um lado e a criação que distingue filhos e filhas, são fatores que podem explicar essas diferentes atitudes de jovens que compartilham experiências de vida, em relação a uma mesma localidade. Essa divisão de trabalho entre estes, se reflete na sucessão familiar e consequentemente na relação com a terra e com o trabalho agrícola, pois, enquanto os filhos são orientados a cuidarem da roça, do trabalho duro, do trabalho braçal, as filhas ficam responsáveis pelos afazeres domésticos, quase sempre não tão relacionados com a agricultura.
Essa autoridade paterna é um elemento que reprime o interesse e a atuação das filhas, pois sem autonomia, elas perdem o interesse, e enxergam no êxodo uma alternativa para se livrarem desta autoridade, dessa opressão, dessa desvalorização, da nulidade de seu papel na agricultura familiar, e até da não visibilidade do seu trabalho no contexto familiar, uma vez que, na maioria das vezes, elas são vistas como meras auxiliares, sem autonomia, sem poder de decisão, sem nenhuma posição de destaque na hierarquia familiar.
Assim, como podemos observar, esses fatores acabam se tornando até um atenuante preponderante para o êxodo das jovens, inclusive com a permissão ou aquiescência dos pais, e na busca por maior liberdade e autonomia própria, na tentativa de lutar por estudos mais qualificados  e melhor escolaridade, elas são praticamente empurradas para a cidade grande, em alguns casos, incorporando-se em trabalhos precários e mal remunerados, mas, que as vezes  lhes permitem visualizar uma melhora acentuada na própria vida. Outro fator que pode contribuir para esse êxodo é o casamento entre  a jovem oriunda do campo e o rapaz da cidade, o que dificilmente ocorre no inverso, pois pode também ter o significado de quebrar vínculos com a autoridade e o controle dos pais.
Maria José Carneiro (2005) afirma que esse processo de migração das moças, coloca-as em condições mais vantajosas em relação após rapazes, pois, nunca foram colocadas como sucessoras rurais e, aí são mais estimuladas a prosseguir e aprofundar seus conhecimentos e modificar seu modo de viver, o que acaba por ampliar as suas opções para além das fronteiras do universo doméstico, já que esse movimento pode ampliar os seus projetos profissionais, em longo prazo, e pode gerar também uma crise na sucessão rural, e consequentemente uma crise na produção da agricultura familiar.
A reprodução social da agricultura familiar, fica em risco, uma vez que, por diferentes razões, os jovens,  principalmente as mulheres, passam cada vez mais a construir projetos profissionais que apontam para a ruptura com a agricultura. Independente disso, com a migração das mulheres, diminuem consideravelmente no campo, a oferta de casamentos, as uniões entre esses habitantes, o que faz com que o homem também migre para o grande centro, comprometendo a continuidade da sucessão rural no campo e o incremento populacional na cidade, o que vai se refletir no campo com a diminuição da produção agrícola e na cidade grande com o aumento principalmente na concorrência por oportunidades.

AUTOR: José Lídio Moura

REFERÊNCIAS:
COSTA, A,M,J   WAQUIL, P.D.;  O empobrecimento e a vulnerabilidade da população rural em situações de Seca: o caso de Santo Cristo, R.S. In: 4º Encontro de Economia Gaúcha, 2008, Porto Alegre. Anais...,2008. P.1-19  1-20.

CASTRO, Elisa G. de. Entre ficar e Sair: Uma etnografia da construção social da categoria juventude rural. Tese de Doutorado. PPGAS- Museu Nacional. UFRJ, 2005.

BRUMER, A. A problemática dos Jovens Rurais na Pós- Modernidade, In. CARNEIRO. Maria José de. Juventude rural: projetos e valores, In: ABRAMO, Helena; BRANCO. Pedro P.M. Retratos da juventude brasileira. Análise de uma pesquisa nacional. São Paulo, Instituto Cidadania e Editora Perseu Abramo, 2005, pp, 243-261.

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